Human and Organizational Performance ou simplesmente HOP é muito mais que uma forma diferente de pensar, agir e liderar.
Para que o HOP seja implementado com sucesso dentro uma empresa, muitas condições devem ser previamente atendidas, riscos mitigados ou eliminados, cumprimento de legislações entre muitos outros aspectos que impactam em custos elevados e uma mudança organizacional profunda.
Se o HOP é bom ou ruim? Leia o artigo e tire suas próprias conclusões.
1. CONCEITO DO HOP (Human and Organizational Performance)
HOP é uma filosofia e um conjunto de práticas que visam aprimorar a segurança e a eficiência no ambiente de trabalho, reconhecendo que o erro humano é inevitável e que os sistemas organizacionais desempenham um papel fundamental na prevenção de incidentes. Em vez de focar na culpa individual, o HOP busca entender como os fatores organizacionais e humanos interagem para criar condições que podem levar a erros.
Princípios Fundamentais do HOP
- O erro é inevitável: reconhece que humanos são falíveis e que erros são uma parte normal do trabalho.
- O comportamento é influenciado pelo contexto: entende que as condições de trabalho (ferramentas, treinamento, procedimentos) têm um impacto significativo no desempenho humano.
- Os sistemas influenciam o desempenho: considera que os sistemas organizacionais (cultura, comunicação, liderança) afetam a forma como as pessoas trabalham e tomam decisões.
- A aprendizagem é vital: enfatiza a importância de aprender com os erros e quase acidentes para melhorar continuamente.
- O envolvimento é indispensável: reconhece que os trabalhadores da linha de frente têm insights valiosos sobre os riscos e desafios do trabalho, e incentiva sua participação na solução de problemas.
Em essência o HOP procura:
- Criar uma cultura de confiança onde os erros são relatados sem medo de punição.
- Analisar os incidentes de forma sistêmica para identificar as causas subjacentes.
- Implementar mudanças nos sistemas e processos para reduzir a probabilidade de erros.
- Capacitar os trabalhadores a tomarem decisões seguras e eficientes.
Como o HOP se difere das abordagens tradicionais de segurança
As abordagens tradicionais de segurança muitas vezes se concentram em culpar os indivíduos por erros e em implementar regras e procedimentos rígidos para controlar o comportamento. O HOP, por outro lado, adota uma abordagem mais holística e colaborativa, reconhecendo que os erros são complexos e que a prevenção requer uma compreensão profunda dos sistemas e fatores humanos.
Em resumo, o HOP oferece uma abordagem mais:
- Proativa: foca na prevenção de erros em vez de apenas reagir aos incidentes.
- Sistêmica: considera todos os fatores que podem contribuir para os erros, em vez de apenas culpar os indivíduos.
- Colaborativa: envolve os trabalhadores na identificação de riscos e na implementação de soluções.
- Orientada para o aprendizado: vê os erros como oportunidades de melhorar e fortalecer os sistemas.
2.HOP: UMA NOVA VISÃO DE SEGURANÇA?
O que Há de Novo no HOP?
O HOP representa, inegavelmente, uma mudança de paradigma em relação às abordagens tradicionais de segurança. As principais novidades que o HOP traz para a mesa são:
- Foco no Fator Humano
- Abordagem Sistêmica
- Cultura de Aprendizado
- Engajamento dos Funcionários
O que Não Há de Novo no HOP?
Embora o HOP traga consigo elementos inovadores, é importante reconhecer que muitos dos princípios e práticas do HOP já são conhecidos e aplicados em outras áreas da segurança. Por exemplo:
Fatores Humanos: o estudo dos fatores humanos na segurança é um campo de longa data, que tem se dedicado a entender como os seres humanos interagem com sistemas e tecnologias.
Análise de Causa Raiz: a análise de causa raiz é uma técnica amplamente utilizada para identificar as causas subjacentes dos acidentes.
Gestão da Qualidade: os princípios da gestão da qualidade, como a melhoria contínua e o foco no cliente, já são aplicados à segurança.
Segurança Baseada em Comportamento (SBC): a SBC, embora tenha sido criticada por alguns, também se concentra no comportamento humano como um fator importante na segurança.
HOP: Uma Evolução, Não uma Revolução
Em vez de uma “nova visão de segurança”, o HOP pode ser mais precisamente descrito como uma evolução das abordagens tradicionais de segurança. O HOP incorpora muitos dos princípios e práticas já existentes, mas os combina de uma forma inovadora e focada no fator humano e na cultura de aprendizado.
3. DESAFIOS PARA ADOTAR A FILOSOFIA E PRÁTICA
A implementação do HOP, embora prometa melhorias significativas na segurança e eficiência, enfrenta uma série de desafios que podem dificultar sua adoção e sucesso nas empresas. A transição para uma cultura que valoriza o aprendizado com os erros e a colaboração exige mudanças profundas nas mentalidades e práticas organizacionais. A seguir alguns aspectos a considerar:
1. Mudança Cultural: é necessária uma mudança profunda na cultura organizacional, passando de uma cultura de “culpa” para uma cultura de “aprendizado”. Isso significa que os erros devem ser vistos como oportunidades de melhoria, e não como motivos para punição. O investimento em comunicação, treinamento e liderança é fundamental.
2. Resistência à Mudança: a resistência pode vir de diferentes níveis da organização, desde a alta gerência até os trabalhadores da linha de frente sendo essencial envolver os funcionários em todo o processo de implementação do HOP, desde o planejamento até a execução.
3. Falta de Compreensão: muitas pessoas podem não entender completamente seus princípios e objetivos. Isso pode levar a uma implementação inadequada e a resultados insatisfatórios. Oferecer treinamento abrangente sobre o HOP para todos os níveis da organização é a saída para essa situação.
4. Falta de Recursos: a exigência de investimentos significativos em tempo, dinheiro e pessoal pode comprometer o sucesso da prática.
5. Dificuldade em medir o sucesso: muitas organizações podem ter dificuldade em identificar os indicadores chave de desempenho (KPIs) que mostram o impacto do HOP na segurança e no desempenho e consequentemente medir o sucesso da implementação.
6. Falta de Liderança: se a alta gerência não estiver comprometida com o HOP, a implementação pode falhar.
7. Complexidade do Sistema: a implementação do HOP pode ser difícil devido à complexidade das interações entre os diferentes elementos do sistema.
4.SUCESSO NA IMPLEMENTAÇÃO DO HOP
A implementação bem-sucedida do HOP não é um processo automático ou garantido; exige uma série de condições e requisitos que nem todas as empresas estão dispostas ou aptas a cumprir. A capacidade de uma organização colher os frutos do HOP depende de uma teia de fatores interconectados, que vão desde o comprometimento da liderança até a cultura organizacional, passando pela compreensão dos princípios e a alocação de recursos adequados.
Uma empresa que não atende aos requisitos legais não está apta a implementar o HOP de forma eficaz ou ética. O cumprimento das leis e regulamentos de segurança deve ser a prioridade máxima. Somente após garantir a conformidade legal, a empresa pode considerar a implementação do HOP como uma ferramenta para melhorar a cultura de segurança, o engajamento dos funcionários e a melhoria contínua. Implementar o HOP em uma empresa não conforme sem abordar as deficiências legais é como construir uma casa sobre uma base instável: o resultado pode ser desastroso.
Para gerenciar a segurança do trabalho de forma eficaz, é necessária uma abordagem integrada que combine o HOP com outras ferramentas e estratégias, incluindo avaliação de riscos, controles de engenharia, controles administrativos, EPI, treinamento e educação, conformidade legal e participação dos funcionários. Uma abordagem abrangente e multifacetada é essencial para criar um ambiente de trabalho seguro e saudável para todos os funcionários.
5.O INTERESSE DAS EMPRESAS POR HOP
Um profissional de SSMA que faz um curso de HOP adquire um conhecimento valioso e ferramentas práticas para implementar os princípios do HOP em sua empresa. Ele estará preparado para analisar eventos, identificar riscos, desenvolver procedimentos e promover uma cultura de segurança mais eficaz. No entanto, a implementação do HOP não é uma tarefa fácil e não depende apenas do conhecimento e das habilidades de um único profissional. A mudança cultural necessária para implementar o HOP requer o envolvimento e o apoio de toda a organização, desde a alta gerência até os trabalhadores da linha de frente.
Mudar a cultura de uma empresa é um dos maiores desafios que um profissional de SSMA pode enfrentar. A cultura é o conjunto de valores, crenças, normas e práticas que moldam o comportamento das pessoas na organização. Mudar a cultura requer tempo, esforço, comunicação, liderança e consistência. Um profissional de SSMA, por mais capacitado que seja, tem uma influência limitada na cultura da empresa. A cultura é moldada por diversos fatores, incluindo a história da empresa, o estilo de liderança da alta gerência, as políticas e os procedimentos internos, e as pressões externas do mercado.
CONCLUSÃO
Tenho dois sentimentos ambíguos pelo HOP, o primeiro é que sem dúvida é bom e mesmo sendo difícil mensurar o retorno do investimento, pode sim implementar ou fortalecer a cultura de segurança. Por outro lado, vejo algo irreal para as empresas. Não vejo na alta administração a preocupação com o HOP a ponto de ser “o modelo” comportamental a ser implementado dentro da empresa. De fato, temos modelos mais bem estruturados, conhecidos e implementados que podem ser referência para quem quiser. Falo especificamente sobre o Hearts & Minds e os programas de outras empresas renomadas no mercado.
O HOP não é uma inovação no mercado, longe disto, mas é sim uma melhoria de muito que já vem sendo feito. Alguns pontos de atenção têm que ser observados pelo profissional que planeja se especializar no assunto, mas o mais importante é entender o interesse da empresa. Se não houver, será um investimento sem retorno.
Longe de querer me posicionar contra ou a favor, entendo que diante do exposto acima é fácil entender a dificuldade da implementação de uma nova cultura através do HOP. São imprescindíveis: o investimento sem um retorno claro e mensurável, adesão da alta administração até o primeiro nível da empresa, cumprimento dos requisitos legais e eliminação ou mitigação de riscos, como parte fundamental da implementação do HOP.
Em mais de 800 vagas atuais para Engenheiros de Segurança, a especialização em HOP não é mencionada como requisito para o cargo. Assim sendo para mim, HOP é mais um modismo, que todos devem ter conhecimento, porém será de muita pouca utilização … gostaria de estar enganado.